Base: Jonas 4
Conhecemos bem a rica história do profeta Jonas: sua chamada, sua desobediência, sua experiência e livramento de dentro do ventre do grande peixe, o cumprimento e o sucesso de sua missão. Porque sucesso? Apesar de todos erros cometidos por Jonas, seu ministério profético alcançou 100% de êxito; todas as pessoas da cidade de Nínive se converteram mediante a mensagem de Jonas.
Mas que era Nínive? Nínive com seus 120 mil habitantes era uma das maiores senão a maior cidade daquele tempo. Era a capital do Império Assírio - o mais poderoso que havia naqueles dias até ser destruído pelo império Babilônico 200 anos mais tarde. Nínive era uma cidade fortificada, praticamente imbatível contra seus adversários. Ela tinha muros ao seu redor tão altos e largos que duas carruagens podiam andar lado a lado sobre eles. Possuíam mais de 1200 torres de vigia. Da mesma forma que Nínive era grandiosa, grande era também a sua perversidade, pois era uma cidade sanguinária. Quando eles invadiam as cidades e derrotavam seus adversários, eles tinham por costume empilhar as cabeças das pessoas que eles matavam nas entradas destas cidades. Não por acaso, Jonas temeu ir até a esta cidade e fugiu da presença de Deus. Deus então o captura, então ele é sepultado vivo naquele grande peixe, ali ele clama a Deus e Deus o traz de volta dando a ele uma segunda oportunidade, porque o Deus que servimos é o Deus da segunda oportunidade. Pode dizer um amém, por isso?
Jonas então adentra naquela cidade, e durante 3 dias proclama uma palavra de juízo da parte de Deus contra aquele povo. Uma coisa, repito, que chama a atenção é o feito de Jonas - ninguém jamais na história nenhum profeta, nenhum evangelista ou missionário conseguiu: alcançar 100% de conversões. A cidade toda se rendeu à pregação de Jonas, o diz o capítulo 3 do livro que o rei de Nínive deu ordem para toda cidade se vestir de pano de saco, num sinal de arrependimento e humilhação perante o Deus de Jonas. E Deus na sua infinita misericórdia perdoa aquele povo e cancela o juízo sobre eles.
Uma vez compreendido todo o contexto, agora chegando ao ponto que quero lhe chamar a atenção, Jonas diante da conversão dos ninivitas e o fato de Deus ter perdoado aquele povo se irrita profundamente a ponto de querer morrer. Que contradição! Todo pregador antes de ministrar a Palavra, se consagra, ora, medita e pesquisa pra poder entregar uma mensagem sadia com objetivo de levar as pessoas refletirem e mudarem de vida. Mas Jonas não queria que Deus perdoasse o povo ninivita e sim que destruísse a cidade. Fazendo uma associação de Jonas com a parábola do filho pródigo, o Jonas do capítulo 1 que queria fazer as coisas do seu jeito à sua maneira assim como o filho pródigo, e o Jonas do capítulo 4 pode ser comparado ao irmão do filho pródigo, o filho mais velho que se ira em ver o irmão retornando para casa de seu pai, vendo aquela festa, num comportamento absurdamente egoísta. Da mesma forma Jonas estava se portando.
Jonas estava extremamente desgostoso com o perdão de Deus ao povo ninivita. Por ser uma nação sanguinária, Jonas queria mais era que Deus enviasse fogo àquela cidade e acabasse com tudo. Só que o povo deu crédito à pregação de Jonas e Deus muda Sua sentença, porque esta é a vontade de Deus para a humanidade: que todos se arrependam e venham ao conhecimento da Salvação. E Jonas, tomado de um sentimento egoísta, se enche de raiva e ora a Deus desejando a morte. Olha só o tipo de crente que é Jonas: 1º porque ele não gostava muito de orar - nas duas vezes que ele orou no livro uma foi pra pedir pra Deus livra-lo no ventre do grande peixe, depois orou pela 2ª vez pra murmurar e pedir a própria morte, ou seja, o mundo de Jonas é ele, o centro da vida é ele, o centro do universo é o umbigo ele! Ele quer que tudo gire em torno da sua vontade. Primeiro ele ora pra ser salvo e depois ele ora pedindo pra morrer. Que homem contraditório, não é verdade?!
Afinal de contas qual o porquê de tudo isso? Qual a razão de tanto aborrecimento a ponto de desejar a morte?
A mesma pergunta Deus faz no v.4 ao ver essa atitude de Jonas: "Jonas, tem algum sentido essa sua ira? Qual a razão desse seu "chiliquezinho"?”. Jonas tá tão emburradinho (igual a uns crentes de hoje, vc conhece um assim? 😅) que sequer responde o que Deus lhe perguntou e resolve sair da cidade. Diz o v.5 da leitura que ele assentou-se ao oriente, construiu uma cabana e ali ficou sentado de camarote numa sombrinha observando pra ver o que iria acontecer àquele povo, talvez pensando: "vai que Deus volta atrás e destrói a cidade". Só que entra dia, sai dia, não acontece nada, calor já incomodando... Jonas já começa a ficar cansado daquilo.
No v.6 Deus então vai ensinar uma lição pra ele: 1º faz nascer uma aboboreira que projeta uma sombra maior e Jonas se alegra grandemente, parafraseando: "ah, como Deus é bom comigo, Gloria Deus e aleluia, sombra fresca, Deus é comigo e não vai me envergonhar diante dos meus inimigos, daqui a pouco Deus vai destruir esse povo" (conjectura nossa). No dia seguinte, diz o v.7 que Deus manda um bicho/verme que ataca a aboboreira e ela seca. Aquele sol forte na cabeça, dia abafado, Deus envia uma brisa quente, que faz Jonas passar mal e torna a maldizer no v.8 "...é melhor morrer do que viver aqui". Jonas volta a ficar desgostoso, triste agora porque a planta morreu. Deus volta questionar ele: "tem algum sentido você ficar desgostoso por causa de uma planta que morreu?”. Jonas agora responde (e é bocudo!) que "sim, tem sentido sim, eu prefiro morrer do que ver a planta morrer".
Sabe que lição eu aprendo com esta resposta mal criada de Jonas? Porque com esta resposta Jonas deixa evidente que dá valor mais às coisas do que às pessoas, Jonas dá mais valor ao seu bem-estar particular do que ao bem-estar do seu próximo. Quando a aboboreira estava lá fazendo sombra: glória a Deus - ele fica todo alegrinho! Parece uns crentes por aí que só aceitam palavra de vitória e rejeitam a palavra de exortação. Mas quando a aboboreira morre, Jonas volta a sentir o desejo de morrer de novo. Ele fica ressentido e compadecido com uma planta que morre, mas por outro lado deseja a morte de 120 mil pessoas que se converteram.
Trazendo pros nossos dias você crente por aí cantando que vai pisar na cabeça dos inimigos, outros oram pra amaldiçoar quem lhe fez algum mal, ou que fica julgando a vida alheia. Vemos gente que gastando um dinheirão com tratamento de beleza pra animal de estimação, mas não investe 1 centavo pra colocar o filho adolescente num curso pra ele se ocupar um pouco, aprender uma profissão. Não! Prefere largar ele na rua aprendendo o que não deve ou joga um videogame ou celular na mão dele pra ficar o dia inteiro pendurado em cima daquilo, aí quando o filho começa a dar trabalho dentro de casa, não entende, questiona Deus, deixa de vir pra igreja porque está desanimado com o filho que não quer nada com a vida. Outro é capaz de passar um dia inteiro alisando um carro, e esquece a família entediada dentro de casa, não sai pra tomar um sorvete com eles pra não sujar o carro que levou o dia todo lustrando ele. O que é que você ama? Coisas? Objetos? Gasta a maior parte do seu tempo fazendo o que? Enfurnado na firma fazendo hora-extra pra manter 2 carros, casa na praia, casa de campo, moto, tênis de marca... E a sua família? E as pessoas à sua volta? Como elas estão? Você tem pensado nelas? Já parou pra perguntar se a família daquele irmão desempregado tá precisando de alguma coisa? Convido você olhar pra dentro de si e refletir um pouco.
Querido leitor, a igreja de Deus precisa amar as almas sem salvação. Porém, você vê muita igreja por aí preocupada com festividade, com roupa, com cantina, com arrecadação de dinheiro, mas e as pessoas lá de fora sem salvação? Gente pra nós é o que tem que importar de fato. A festividade só terá sentido se houver salvação de gente. A arrecadação de dinheiro só vai ter sentido se for pra socorrer e ajudar as pessoas, a arrecadação de dinheiro só vai ter sentido se for pra investir na capacitação de gente pra ganhar mais gente pelos 4 cantos do mundo, a arrecadação de dinheiro só vai ter sentido se for pra construir mais templo pra abrigar mais gente. A igreja de Deus precisa priorizar gente e o que nós como igreja temos priorizado?
Pra finalizar essa reflexão, diante de tudo que foi dito aqui não sabemos que fim deu Jonas, se ele aprendeu algo com estas experiências. No ultimo versículo do capítulo 4 Deus expressa todo seu amor por aquela cidade, ainda que um povo rebelde, mas agora arrependido. O amor de Deus abrange os perdidos de todos os lugares do mundo - muito mais que o amor humano que muita das vezes se prende a coisas e objetos e não ao que realmente importa. E diante disso Jonas fica sem responder e o livro chega ao fim, mas não por acaso esta pergunta serve pra eu e você poder dar a resposta neste instante. O que tem mais valor pra você? No quê você mais investe seu tempo, sua atenção, seus talentos e recursos? O que realmente importa pra você? Você vai ficar sentado na sua sombra observando o que vai acontecer com as pessoas ao seu redor necessitando de salvação?
Se o que Deus ama e nós não amamos com atitude, então eu você somos como Jonas. Se não nos importamos com a salvação das pessoas que estão morrendo lá fora, ou se não nos alegramos com a conversão delas, então nós somos como Jonas. Quem sabe hoje Deus quer tratar conosco neste dia, nos ensinar a amar àqueles a quem Ele ama, quem sabe ele não nos está instigando a pensar e agir mais em favor daqueles a quem Ele ama.
Servimos a um Deus justo, que não tolera o pecado, mas servimos também a um Deus misericordioso que muda o seu juízo quando vê um coração arrependido. Este é o amor de Deus por nós pecadores, sempre nos ensinando, sempre nos dando segundas, terceiras, quartas oportunidades para aprendermos a estar no centro da Sua vontade e a valorizar aquilo que realmente importa. O que importa pra Deus é gente como eu e você, com todos os nossos defeitos. Ele deu o que tinha de melhor (o seu Filho) pra que você possa ter esta oportunidade de reflexão e mudança de atitude.
Espero que esta mensagem possa servir de inspiração para uma mudança radical na sua forma de pensar. Que a partir de agora passemos a valorizar pessoas e usar coisas e não o contrário.
Deus em Cristo te abençoe!
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